Luís Filipe Gomes Azulejos
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A EXPLICAÇÃO DOS AZULEJOS Na minha infância havia uma cozinha forrada com azulejos. Cada quadrícula tinha uma figura diferente. Demorava-me tardes inteiras a olhar para eles. Aleatoriamente inventava histórias com todas aquelas personagens: bichos, pessoas, barcos, flores, florestas, palácios... Sempre tive jeito para desenhar, ou pelo menos assim me diziam, porque era uma actividade sossegada e silenciosa que não
requeria a atenção dos «crescidos» sempre tão atarefados. Por talento ou por incentivo, cresci a desenhar. Muito mais tarde decidi pintar azulejos. Rapidamente percebi que não queria pintar querubins barrocos. O azul também me
pareceu escasso, decidi por isso fazer os bonecos que sempre fiz, com todas as cores possíveis. Por isto pinto o que me agrada e o que me desagrada, o que existe e o que indevidamente se perdeu. Pinto o trabalho e os acidentes de trabalho. Pinto profissões desaparecidas, brincadeiras de criança fora de moda. Pinto
hábitos da cidade e costumes do campo. Pinto o mar e a floresta. Pinto o amor e o desamor. Procuro sempre estar desperto. Sempre que possível e se necessário, procuro alertar os mais distraídos. Luís Filipe Gomes |
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